Orgulho e Preconceito
Por que gostamos da tecnologia e tememos tanto a inovação?
Eu jurei que demoraria um pouco mais para acontecer: no fim de 2021 postei o vídeo abaixo no meu canal do Youtube, aconselho que o assista antes de prosseguir:
Nele comento o sumiço das lojas tradicionais de fotografia e a supremacia dos celulares e acessórios em grandes centros comerciais e shoppings pelo Brasil.
Não é um fenômeno restrito às grandes cidades, passamos por três lojas de celulares visitando a pequena Marechal Taumaturgo, no Acre, para a expedição Brasil Gigante.
Em 6 meses viajando pelo país, vimos apenas 6 fotógrafos com câmeras tradicionais, sendo que um deles era eu.
Lá pelo quinto minuto ( são apenas 8, assiste lá vai, deixa de preguiça! 😃) afirmo que os próximos clientes dos fotógrafos de casamento e eventos serão os nascidos um pouco antes do surgimento do Iphone, em 2010.
Jovens que cresceram vendo suas recordações em aparelhos minúsculos, em pastas compartilhadas no Drive, nunca imprimiram uma foto e não usam pen drives de madeira, muito menos escondem álbuns de arte..ops…fotos no topo do armário, uma semana após o evento.
Pessoas que não estão nem um pouco interessadas em ruído de sensor, nitidez em 400% ou desfoque cremoso, muito menos no prazer da “ergonomia de uma DSLR”, simplesmente porque nunca usaram uma e logo elas já terão desaparecido.
Todos os fabricantes de câmeras somados venderam 1,8 milhão de DSLR ano passado, menos que a população de Curitiba.
A produção de mirrorless não fica atrás, atenderia apenas aos habitantes de Salvador.
As previsões para 2022 são ainda piores.
Para minha filha Carol, e todos os seus amigos de 18 anos, fotografia não é papel impresso, mas uma tela iluminada.
Ela irá se casar, inaugurar loja, decorar seu primeiro apartamento e viajar sem nunca pensar em uma DSLR ou mirrorless.
“Email é coisa de velho”, mostra o tamanho do abismo geracional
Cegos com câmeras
Uma matéria do New York Times dessa semana revela que há um alçapão no fundo do abismo:
Convidados de casamentos clicando festa e cerimônia com celulares e compartilhando o resultado em pastas nos Drives da vida, as razões são inúmeras:
Preocupação com COVID, dificuldade em encontrar profissionais em meio a retomada dos eventos e, principalmente, por questões de grana e por quererem algo mais simples e sincero.
É reflexo direto dos 3 anos de uma pandemia que mudou o perfil dos consumidores:
Hiperconectados, mas desejosos de experiências reais, menos ostentação e mais viagens, crença no digital e uma necessidade de consumo consciente com mais respeito à natureza.
A matéria rendeu comentários que mostram como o fotógrafo se transformou em um vesgo carregando uma câmera, para não dizer “cego”.
“Matéria chocante”, “fotos muito limitadas”, “estética pobre”, diz a Iphoto para noivos sorrindo de orelha a orelha nas fotos de seus casamentos.
Você realmente vê pessoas com dificuldades financeiras ou de discernimento nessa imagem?
Os trajes simples e o ambiente caseiro não parecem uma escolha em vez de uma necessidade?
Você só enxerga “estética pobre” aqui?
Boa parte dos 65 comentários na postagem do Facebook criticou a atitude dos noivos: “vão se arrepender muito depois”, “deixa a moda pegar, assisto de camarote”, “quero ver uma impressão dessas “imagens” ( as aspas não são minhas).
Lembra a Kodak?
Embora o domínio do celular seja tão evidente quanto a mudança na postura de uma parcela da população, não houve um só fotógrafo capaz de fazer a pergunta de 1 milhão de dólares:
Por que não sou eu segurando aqueles celulares?
Não há uma linha sequer nessas matérias ou comentários sugerindo que os noivos detestem fotógrafos ou fotografia de casamento, mas que buscavam um serviço que não existe no mercado e acabaram optando por pessoas sem a habilidade necessária.
É a sua inépcia em enxergar o óbvio que é a responsável pelas péssimas lembranças do casamento, não a inabilidade dos noivos ou dos aparelhos.
As jornadas e maratonas on-line e gratuitas com os fotógrafos mais premiados do Universo, que iam te transformar na sensação da sua cidade ganhando 10 mil reais e levar sua fotografia para um próximo nível não te fizeram capaz de perceber um mercado tão fértil como esse?
Não? Então o que fará?
Há pelo menos 2 anos eu venho repetindo a mesma pergunta em vídeos e lives:
Quais são os produtos e serviços no seu portfólio que contemplam o celular? Ou que contemplam o mundo online?
Você conta apenas com o círculo de clientes distante 40 km do seu estúdio?
Há uma máquina capaz de produzir imagens incríveis na mão do seu cliente, e o que vc tem a oferecer é preset no Lightroom, pen drive de madeira falsa e álbum de papel??
Depois de 12 anos de vida, 99,6% do mercado de câmera e bilhões de investimento das empresas mais valiosas da Terra, você realmente acha que os celulares nunca irão chegar lá?
Pior: você realmente acha que eles não têm força suficiente para mudar esse “lá” ?
Você já está filmando e vendo vídeo na vertical! Precisa de mais algum sinal?
Eu acho incrível como nós, fotógrafos, passamos a usar os mesmos argumentos que ouvimos quando o formato 35mm surgiu, passamos a ignorar que a história da fotografia se resume na troca de qualidade por portabilidade e que nas últimas duas décadas vimos algumas revoluções:
A mudança do filme para o digital, dos desktops para os notebooks, DVDs morrendo para o streaming, a ascenção do tráfego pago e derrocada do anúncio em revistas e jornai.
Lembro-me de algumas frases icônicas de executivos que fizeram as mais estapafúrdias previsões sobre tecnologia:
“Eu acredito que há mercado para talvez cinco computadores”, da IBM, olha o Bill Gates com essa “Eu vejo pouco potencial comercial para a Internet” e a centenária e mitológica Kodak se recusando a acreditar que alguém trocaria o filme pelo digital.
Estamos dentro de uma das maiores mudanças que a fotografia já passou e o que se vê ao longe “não são montanhas, são ondas”.
O que você está fazendo para vencê-las?
Boa Luz e Boa Sorte







Hoje tentei me inscrever como fotógrafa do Airbnb. Estava lá: " Quais equipamentos são necessários para realizar as tarefas?
Você deve usar uma câmera full frame com lentes de zoom que podem ir entre 16 e 50 mm. Não aceitamos câmeras de sensor cropado, lentes menores que 16 mm ou apenas lentes prime. Além disso, é essencial ter um tripé."
Ou seja: fiz fotos incríveis do meu apartamento ( modéstia à parte) e não posso oferecer esse serviço, pq só tenho o tripé e a FF. Não tenho uma zoom com grande angular.
Olhos e ouvidos atentos!!!!